quarta-feira, 27 de abril de 2011

J-Rock - Um apanhado geral do J-Rock e do Visual Kei - Parte 1

Olá, pessoas.

Hoje vou falar de um gênero musical que é um dos meus favoritos, e que está se difundindo com bastante intensidade pelo ocidente, o J-Rock, ou em bom português, Rock Japonês. Em especial, sobre as bandas que fazem parte do movimento Visual Kei (Kei - Linhagem, em japonês).

Para entender todo esse sucesso que o Rock Japonês apresenta no mundo hoje, é necessário retornar às décadas de 50 e 60, período em que o Japão estava se reestruturando economicamente, após um período turbulento devido aos ataques dos EUA às cidades de Hiroshima e Nagasaki, com a famosa bomba atômica. Nesse período de reestruturação, o Japão investiu fortemente em educação, indústrias e tecnologia, para poder recuperar em pouco tempo o que havia sido devastado pela guerra. Com esse investimento, logo logo o Japão viria a se tornar uma potência econômica, tornando-se no final da década de 90 a terceira economia do mundo, ao lado dos EUA e União Européia.

Década de 70 – Nascimento.

Na década de 70, o movimento rock explodia no Ocidente. Bandas como Black Sabbath, Deep Purple, Led Zeppelin, KISS, AC/DC, e muitas outras estouravam nas paradas Americanas e Européias. E o Japão, como consumidor potencial de cultura ocidental, começou a importar álbuns dessas bandas citadas anteriormente. O Japão estava se modernizando tecnologicamente e culturalmente também. Exportava suas tecnologias de eletrodomésticos, automóveis, cinema, e importava bastante coisa também. Música era uma delas. A bossa nova, nos anos 60, e o Rock, já na década de 70, eram ritmos importados pelos cidadãos japoneses amantes da música ocidental.

Três bandas do ocidente foram fundamentais para a descoberta do público nipônico potencial para o rock ‘n roll nos anos 60/70: Os Beatles (registro Live at Budokan, disponível em DVD), o Deep Purple (lançamento do álbum Made In Japan) e o KISS. Esta última, principalmente, foi a divisora de águas no que diz respeito às bandas que surgiram no Japão nos anos 80. Ainda tratando-se de Década de 70, no Japão surgiram duas bandas fundamentais para o Rock Japonês, O Flower Traveling Band e o Bow Wow. Esta última ganhou bastante popularidade após abrir shows do KISS e Aerosmith, em suas respectivas turnês pelo Japão.

O Flower Travellin band, assim como o Bow Wow, possuía grande influência do trio britânico Purple/Sabbath/Zeppelin. A banda lançou vários registros até o ano de 1973, ano que a banda acabou. Dentre estes álbuns, um deles tinha como temática a II Guerra mundial do ponto de vista Oriental. Em 1998, a banda retorna a mídia, depois de 25 anos de fim de atividades, Com materiais que na década de 70 foram arquivados pela gravadora, e agora sendo lançados no Japão. Os dois álbuns mais importantes desta banda são “Satori” e o “Made In Japan”.

Flower Travelin Band

O Bow-Wow surgiu em 1975, e conseguiu bastante notoriedade não somente na sua terra natal, mas também na Europa. Tocando ao lado de nomes como KISS, Aerosmith e Iron Maiden, este grupo sem dúvida é um dos mais importantes para a história do Rock Japonês. Um dos seus maiores hits é um cover da música “Come Together”, do quarteto britânico “The Beatles”. E para quem não sabe, uma bomba: A técnica Tapping, que ficou popularizada pelo guitarrista Eddie Van Halen, foi criada pelo guitarrista e líder do Bow Wow Kyoji Yamamoto. O Bow Wow se mantém na ativa até os dias de hoje.

Bow-wow

Outros nomes importantes da década de 70 no Japão: Earthshaker, LAZY (banda do lendário cantor de animesongs Hironobu Kageyama),Murasaki.

Década de 80: A explosão do Heavy Metal Japonês e o Nascimento do Visual kei.

Com a dissolução do LAZY, o guitarrista Akira Takasaki reúne seus amigos Munetaka Higushi, Masayoshi Yamashita e Minoru Niihara e forma o lendário Loudness, a primeira banda japonesa a fazer sucesso no ocidente e a ganhar reconhecimento devido na crítica especializada nos países europeus e nos EUA. O guitarrista Akira Takasaki é considerado pela Revista Rolling Stone um dos 100 mais importantes guitarristas de todos os tempos. Seus álbuns mais importantes na década de 80 foram o Thunder in The East, que garantiu o sucesso fora do Japão, e o Soldier Of Fortune, banda que projetou o vocalista norte-americano Mike Vescera para o mundo.

O Loudness foi a banda pioneira para a popularização do Heavy Metal Japonês na mídia nipônica, dando sequência a outras bandas que também seguiram a sonoridade Heavy Metal: Anthem, Seikima-II, Action, Sniper, Nighthawks, e esta que falaremos mais profundamente nos próximos parágrafos: X Japan.

Loudness

Paralelamente à explosão do Heavy Metal Japonês, em 1980, o punk rock também invadia o território nipônico, com lançamentos como Sex Pistols, The Clash, Ramones, e outros petardos invadindo as lojas de discos do país. Não demorou muito para que surgissem as bandas de Punk no Japão, tendo uma delas um destaque especial: The Stalin. Michiro Endo, o fundador da banda, escolheu este nome porque a figura de Josef Stalin (ditador soviético que ficou no poder entre 1922 e 1953) era bastante odiada no Japão. Esse fator fez com que a banda chamasse atenção da mídia e das autoridades japonesas. O seu visual, inspirado no visual punk do final da década de 80, foi decisivo para a popularidade da banda. Muitos críticos consideram o The Stalin como a primeira banda de Visual Kei da história, por causa do visual adotado. A banda acabou em 1985.

The Stalin

Além do Punk Rock, o New Wave e o Pós-Punk também invadiram o Japão e ganharam muitos adeptos, entre eles, Atsushi Sakurai. Essa paixão pelo new wave fez com que, em 1986, Sakurai fundasse junto à Hisashi Imai (guitarra), Hidehiko Hoshino (guitarra), Yutaka Higuchi (baixo) e Troll Yagami (bateria) uma das pioneiras do Visual Kei, a banda Buck-Tick. O estilo musical deles possui grande carga de pós-punk, new wave, synth-pop, entre outros ritmos que tinham forte presença do teclado e da bateria eletrônica. Estão na ativa até hoje. Tocaram ao lado de bandas grandes do rock ocidental, como The Cure, The Smiths, Sisters Of Mercy, e continuam lançando trabalhos, tanto a banda em si quanto seus integrantes em projetos paralelos.


Buck-Tick

Em 1982, influenciado pelos Sex Pistols, KISS e Iron Maiden, dois amigos decidem formar uma banda de Rock. Estes amigos eram Toshimitsu Deyama e Yoshiki Hayashi. A primeira banda da dupla chama-se NOISE, mas com a constante troca de membros, adotam um nome provisório, chamado X, nome este que acaba por tornar-se definitivo. A banda acaba em 85, mas retorna as atividades em 87, após Toshi

reencontrar com Taiji Sawada, este lhe apresenta um guitarrista chamado Hideto Matsumoto, que tocava na banda de Hard Rock Saber Tiger. O Guitarrista Tomoaki Ishizuka entrou logo depois, após ter sido convidado para gravar uma demo para a coletânia de Heavy Metal Thrash Skull Zone, formando assim a formação clássica do X (que mais tarde com a saída de Taiji e a entrada de Hiroshi Morie,passaria a se chamar X Japan). Em 1988, lançariam o álbum divisor de águas da história não somente do Rock Japonês, mas da música japonesa, o Vanishing Vision. O segundo álbum, Blue Blood (lançado em 1989) mais uma vez revolucionaria o Rock Japonês, tornando o X a primeira banda independente a entrar nas paradas nacionais japonesas, e assim iniciando-se uma popularidade que se manteria mesmo após a dissolução da banda, em 1997. O seu lema, “Psychdelic Violence ~ Crime Of Visual Shock”, serviria de inspiração para quase todas as bandas que viriam a ser adeptas do movimento estético visual kei, e para todos os fãs adeptos do rock no Japão.

A morte do guitarrista Hideto Matsumoto em 1998 foi um grande abalo no Japão, que discorreu em um grande número de suicídios por conta da morte do ídolo japonês. A banda retornou em 2007, com um show de 3 dias no estádio Tokyo Dome, e atualmente conta com um “Sexto” Membro, o guitarrista Sugizo, também integrante do lendário Luna Sea.

X Japan

Outros nomes importantes da década de 80: D’erlanger, Dead End, Seikima-II (Visualmente inspirados no KISS e Secos e Molhados), Anthem, Make-Up (banda conhecida pelo tema Pegasus Fantasy, abertura do anime Saint Seiya, Cavaleiros do Zodíaco no Brasil), Blizard, EZO (banda empresariada por Gene Simmons, baixista do KISS).

Década de 90: Auge do movimento Visual Kei

Na minha opinião, o Visual Kei nos anos 90 está para o Rock Brasileiro nos anos 80. Explodiu de verdade, com os programas de televisão veiculando em sua programação videoclipes e apresentações ao vivo das bandas que surgiam e estouravam nas paradas japonesas que eram adeptas do movimento, ou tinham seu primeiro álbum lançados neste estilo estético-musical.

Uma destas bandas era o L’arc~en~Ciel, que tinha como estilo visual o Visual Kei, misturando os visuais do Hard Rock Glam Europeu e Norte-Americano. Na ativa desde 1991, eles possuem vários hits, como Lost Heaven, Ready Steady GO!(tema do anime Full Metal Alchemist).

O L’arc tem na sua formação atual o vocalista Hyde (que também se chama Hideto, mas adotou o Y no nome para diferenciá-lo do guitarrista hide, do X Japan), o baixista Tetsuya, o guitarrista Ken e o baterista Yukihiro. O primeiro álbum, lançado em 93, atingiu o 1º lugar da Oricon, superando o feito alcançado pelo X Japan na década de 80, e assim dando continuidade ao crescimento da popularidade do fenômeno que eram as bandas de Visual Kei. O L’arc~en~ciel é considerada a maior banda de rock do Japão de todos os tempos, segundo a organização Japonesa de Cultura.


L'arc~en~ciel

Em meados de 1980, um jovem comum de Hiroshima muda sua vida após assistir um show do Motley Crue em uma de suas viagens à Osaka. A partir deste dia, este jovem passa a adotar um visual completamente glam, utilizando a maquiagem de sua mãe. O garoto ganha um violão e uma bateria de presentes, e passa a se vestir e tocar furiosamente igual o baterista Tommy Lee. Mas o Hard Rock acaba tornando-se simples demais, e logo logo o rapaz conhece a banda Sex Pistols, onde adota um visual completamente punk e desafiador, que deixava os policiais japoneses a alerta quando passava por eles.

O jovem em questão ficou conhecido mais tarde com o nome de Mana, e pelo instrumento que comprou com o próprio dinheiro, a guitarra. Ao mudar-se para Tóquio, conheceu em um Karaokê um rapaz que ficou impressionado com o visual de Mana. Este rapaz impressionado era Közi. Algum tempo depois, estes dois conheceram Tetsu, Yu~ki e Kami, e fundariam uma das bandas mais inovadoras do Japão e uma dos maiores expoentes do Visual Kei, o Malice Mizer. Mais tarde, Testu sairia e daria lugar a um dos maiores artistas japoneses da história, Gackt. O nome da banda significa, em Frances, algo como “Malicia da tragédia”. A influência da música francesa aliada à

música erudita europeia em geral e a fusão dos solos de guitarra com ritmos diferentes e até mesmo com influências de ritmos brasileiros como o Samba e a Bossa nova tornaram o Malice Mizer uma banda única e até hoje com um estilo que banda nenhuma conseguiu copiar ou se apropriar. A banda que mais chegou perto disso será falada mais adiante: Versailles. Em 1999, o baterista Kami falece devido a um derrame cerebral. Abalado com a morte do amigo, o vocalista Gackt deixa a banda, sendo mais tarde substituído por Klaha. O Malice Mizer lança seu último álbum em 2000, com os integrantes remanescentes Mana, Yuki, Kozi e Klaha, encerrando suas atividades em 2001.

Malice Mizer

Em 1990, o Lunacy fez seu primeiro show, para cerca de 15 pessoas na Machida Play House, em Kanagawa. Após serem descobertos por Hideto Matsumoto (guitarrista do X Japan), trocam o nome para Luna Sea, e assinam com a gravadora Extasy Records, gravadora fundada no final da década de 80 por Yoshiki Hayashi, baterista e líder do X Japan.

Também apostando no recém-surgido visual kei, o Luna Sea foi considerado uma das bandas mais influentes do movimento por sua sonoridade, que misturava o new-wave, o pós-punk, o punk, o hard rock, o ska e alguns elementos de Heavy Metal, tornando a banda um verdadeiro ícone inspirador para bandas que surgiram no final dos anos 90 e no final dos anos 2000, sendo um verdadeiro sinônimo do visual kei no que diz respeito à composição musical. Durante seu tempo de vida, a banda manteve a mesma formação. A banda acabou em 2000, mas voltou em 2008, para shows em comemoração a datas de aniversário, e para tocar também no festival hide memorial summit, realizado em 2008 no Ajinomoto stadium.

Luna Sea

Em 1997, após o fim da banda La:Sadie’s, os integrantes Kyo, Kaoru, Die e Shinya convidam o baixista Toshiya para fazer parte da banda, fazendo assim com que a banda Dir En Grey nascesse. O lançamento do primeiro mini-álbum, Missa, fez a banda alcançar as paradas da Oricon, porém a banda só começaria mesmo a fazer sucesso após o lançamento do primeiro álbum oficial, o GAUZE, em 1999. Com influências do X Japan e do Luna Sea, e também com influências do New Metal americano, o Dir En Grey viria influenciar as bandas de visual kei da geração 2000.

A partir dos anos 2000, O Dir En grey começou a ganhar projeção para os outros continentes, se tornando assim a banda japonesa mais famosa no mundo, superando o feito alcançado pelo Loudness na década de 80. O Dir En Grey tocou em festivais como o Rock Am Ring, Wacken (ambos na Alemanha), e tocaram ao lado de bandas ícones do New Metal, como o Linkin Park e o Korn. Esse sucesso mundial do Dir En Grey deu projeção para que bandas novas começassem a fazer sucesso fora do Japão, e deu suporte também para que bandas antigas também ganhassem fãs do outro lado do mundo. Esse fenômeno que se tornou o visual kei será explicado no próximo post.

Dir En Grey

Outros nomes importantes: SHAZNA, Kuroyume (considerada a maior influência do Dir Em grey), Siam Shade (responsável pela trilha sonora 1/3 Junjou na Kunjou, abertura do anime Samurai X).

No próximo post finalizo esta matéria, falando sobre o visual kei nos anos 2000, e o meu top 10 da história do J-Rock/Visual kei.


Grande abraço.

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